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MARIA MÁXIMO

Ismênia de Jesus Azevedo, casada com Aurélio Augusto Mesquita de Azevedo, trás à luz no dia 14/12/1888, em Portugal em localidade de Riodades o espírito reencarnante que recebeu o nome de Maria da Piedade.

Dessa data e passando pela infância, juventude, seu casamento com Miguel Máximo, nada se conhece.

Resultado desse enlace, cria-se o casal Maria e Miguel Máximo, como seriam conhecidos até os dias de hoje. Profissionalmente viviam das glórias da ribalta sob os aplausos entusiasmados do grande público amante da arte cênica. Constituindo o Duo Max, representaram pelos palcos da Europa, criando celebridade e forjando uma fama que os traria ao Brasil, onde, sem que o soubessem o destino lhes reservava uma tarefa totalmente diferente.

Após anos de representação e aplausos, o buscado pagamento dos que se dedicam a tão difícil tarefa, a mediunidade, essa ferramenta de trabalho e ressarcimento de dívidas, para com as leis eternas de Deus, eclode em Maria Máximo determinando mudanças de rumos. As cortinas descem, se fecham. As luzes da ribalta apagaram-se. Os palcos ficaram vazios do Duo Max, tão festejado, o público não o pode mais aplaudir.

Entretanto, novo palco e novos cenários, para um interminável público de angustiados e sofredores surgia desafiando sua capacidade espiritual.

Maria Máximo
 não teve muita dificuldade em se adaptar à arte da caridade, pois inteligente e generosa a todos acolhia e confortava espalhando esperança e alegria, reconfortando e estimulando a fé. Sua extraordinária lucidez doutrinária aliava a bondade da criatura evangelizada e a energia empreendedora própria daqueles que têm tarefa importante a cumprir no plano da carne.

Médium clarividente, auditiva, psicografa, de desdobramento, de transfiguração, psicofônica e de excepcional capacidade curadora, atendia diuturnamente as pessoas que a procuravam vindas de toda a parte. Expositora inspirada, era ouvida por grande assistência em absoluto silêncio. Pessoas das camadas sociais mais simples até as de grande cultura e elevada posição social e financeira, buscavam-na sequiosos de esclarecimento e consolo.

Não se limitou apenas à parte doutrinária e mediúnica, mas como boa samaritana, sentia o grande drama da infância abandonada, dos famintos e desamparados.

Em janeiro de 1937, fundava o Centro Espírita “Ismênia de Jesus”, localizado na Rua Pereira Barreto, n° 34, no bairro do Gonzaga, na cidade de Santos.

Aproximadamente um ano após, muda-se a sede para a Av. Conselheiro Nébias, n° 490. Mas já em dezembro de 1939, ampliam-se as condições de materializar o ideal de sede própria, pois juntamente com seus companheiros de então, inaugura sede própria na Rua Campos Melo, n° 312 servida por um salão para 600 pessoas e um berçário que acolhia mais de 20 crianças abandonadas.

Centro Espírita “Ismênia de Jesus”, passa a ter sua sede própria com o apropriado nome de “Casa dos Pobres”, até os dias de hoje marcado no cimento em sua fachada.

Isto para muitos era algo grandioso e bastava, mas, para Maria Máximo era o início da caminhada. Os primeiros passos tinham sido dados, mas, seu espírito empreendedor e sua solidariedade ao sofrimento desejava mais, em 1941 inaugurava ampla cozinha e refeitório (225 m²) que passam a distribuir alimento a mais de 150 pessoas diariamente. Essa iniciativa persiste até os dias de hoje, sem interrupção de um só dia desde 24/08/1941.

 Três anos após, o dia 7 de setembro de 1944, a inesgotável força empreendedora de Maria Máximo, estabelece novo marco. Um prédio de três andares (1.200 m² de construção) é inaugurado para dar assistência às mães solteiras “às irmãs afastadas da sociedade” conforme conceituação da época – criaturas marcadas por uma época de preconceitos.

A preocupação com os sofrimentos alheios produzia em seu espírito a vontade do trabalho, animando-a a tudo que propiciasse um completo atendimento às crianças.  A instrução escolar não foi esquecida, em 10/04/1947 é inaugurada a Escola Espiritualista “Ordem e Progresso”, escola de ensino primário, novo prédio de três andares (mais de 1.300 m² de construção) no mesmo terreno, com frente para a Av. Conselheiro Nébias, n° 425.

Animada por grande fé em Deus e idealismo cristão, Maria Máximo realizava mas, sofria os desgastes do corpo físico, natural e inexorável. Isto aliado à falta que produzia o companheiro de jornada, Miguel Máximo, desencarnado em 24 de agosto de 1940. Essa perda lhe havia produzido marcas ao sofrimento, pois, o companheirismo era bastante acentuado entre ambos, trabalhavam juntos profissionalmente durante anos e, assim prosseguiram na Casa Espírita de “Ismênia de Jesus”.

Voltando a memória no tempo, cabe ressaltar dois aspectos que lhe engrandecem os feitos e dão medida mais exata das dificuldades vividas: Todas essas realizações, concretizaram-se no período da Grande Guerra entre 1939 e 1945, em plena crise nacional e internacional. Sua condição de mulher é o aspecto que também ressalta, pois a sociedade como um todo, tinha o domínio, mais acentuado pelos homens, sufocando o trabalho da mulher, restringindo-o às atividades domésticas.

Agregado a esses aspectos anteriores, cumprindo a tríade básica de dificuldades, o que todo o seu trabalho, inclusive o mediúnico, despertava na sociedade, gerando a incompreensão, ataque e toda a sorte de barreiras comuns aos missionários, os executores de tarefas edificantes em nome de Deus.

Porém não a pensemos só, sem ajuda, sem companheiros leais e denodados. Achegado a ela pelo sofrimento em família, o processo obsessivo desenvolvido numa filha, está o grande doador que possibilitou tais realizações materiais, em sua maior parte, o Cel. Arlindo Ribeiro de Andrade. Portador de grandes recursos materiais, o irmão Arlindo convocado pela sua bondade e motivado pelos exemplos, é valioso auxiliar nas tarefas, posto que a maioria da totalidade de seus bens patrimoniais foi objeto de sua doação.

Um trabalho de tal envergadura, atendendo às finalidades descritas por certo obedecia planos superiores, e, Maria Máximo, recebia orientações de seu guia espiritual, Pai Aurélio, nada menos que seu genitor, Aurélio Augusto de Azevedo.

Esse ex-médico português afirmava à filha dileta do coração que o “Banco da Misericórdia Divina não a deixaria sem recursos para a obra e que apareceriam de forma inesperada” instando-a sempre a prosseguir confiante e segura.

Os trabalhos nas áreas assistencial e espiritual não davam trégua, nem descanso a Maria Máximo que se dedicava de corpo e alma, sem deixar-se abater espiritualmente, renovando suas forças nas necessidades alheias, esquecida sempre de si mesma. Todavia, o corpo físico cedia ao desgaste, levando muitos companheiros de luta a interceder para que repousasse para a recuperação da energia orgânica. Em carta datada de 19/01/1946, o irmão Maurício de Jesus Mariano, então 1° Secretário da Diretoria Executiva, escrevia a Francisco Cândido Xavier em Pedro Leopoldo estas palavras: “Nossa irmã Maria Máximo está muito enfraquecida em sua matéria, rogai a Jesus para que a fortifique, e muito particularmente vos peço, lhe aconselheis bastante repouso, que é o que ela mais necessita e a única coisa em que se torna rebelde, apesar das muitas recomendações de Pai Aurélio”.

Maria Máximo em carta ao Chico Xavier, com quem mantinha correspondência e visitas pessoais, diz: “Quero pedir-te um grande favor que, por certo não me negarás. Pai Aurélio pede-me repouso, Dr. Carneiro, pede-me repouso, mas as mensagens que recebo são sempre estímu-lo ao trabalho e, como sabes, sou filha carnal de Pai Aurélio, pedia-te orientação dada por Emmanuel, para sossego de meu espírito, pois não sei se estou obedecendo ou desobedecendo.”

Compreende-se que ela sofria, no seu dinamismo cristão, pelas impossibilidades impostas pela doença. Lutava no seu idealismo, contra o descaso, realizando tanto quanto pudesse, até além de suas forças, para atender a tudo e a todos.

Essa é Maria Máximo, uma operária da Caridade nesta cidade de Santos, a terra da Caridade e da Liberdade, realizando com denodo desmensurado em trabalho árduo.

O agravamento progressivo e acentuado de seu estado de saúde levou os irmãos de ideal, seus companheiros no trabalho, a levá-la a repouso na Granja “Fé, Esperança e Caridade” (doada por volta do ano de 1947), onde ficava a colônia de férias para as crianças internadas em Santos. Procuraram obrigá-la ao repouso, afastando-a do palco das lutas mais acerbas, conseguindo em parte seus intuitos. Embora distante 60 Km de Santos, Maria Máximo participava juntamente com os guias espirituais, dos trabalhos de desobsessão realizados no Centro Espírita, onde se manifestava através de médium, orientando e incentivando os companheiros que continuavam mantendo atividade normal.

Essa forma de participação levou aproximadamente dois anos, quando em tarde ensolarada, no seu exílio forçado no local onde hoje funciona o Lar Escola “Ismênia de Jesus” para noventa crianças, aos 10/08/1949, particular deficiência coronária fez parar seu coração. O coração que, no palco do sentimento, figurativo, vibrou a pleno amor numa dedicação sem limites.

Vale lembrar ainda que enquanto alguns poucos irmãos presentes na hora da mudança tudo faziam na tentativa de reanimar o corpo, em menos de duas horas ouviram através de médium presente, sua manifestação primeira após o desencarne, dizendo que, sua “carta de alforria tinha chegado” e despede-se confortando e encorajando os companheiros a continuarem nas tarefas.

Essa existência terrena pelo vigor de ideal, desprendimento e trabalho, continuou a produzir frutos.